São Paulo, 31 de janeiro de 2020
Nº 002/20
I. INTERNACIONAL
1. O destaque no início do mês foram as tensões entre Irã e EUA. Nesse processo as análises se voltaram para entender o Irã e o impacto das sanções dos EUA sobre ele. Desde 2018 que foi anunciado essas medidas por Trump, o PIB do país caiu 4,8% em 2018 e a previsão do FMI para o ano de 2019 é de uma queda de 9,5%. Sendo o Petróleo uma das principais fontes do país, sua produção tem apresentado queda anualmente.
2. Em se tratando de queda da produção do Petróleo, outro país que vem sofrendo duramente com esse processo é a Venezuela. De uma produção média de barria diários de 1,3 milhão em 2018, hoje apresenta uma produção de 697 mil de barris/dia, segundo a OPEP. Segundos os analistas será uma queda de 43% nas exportações do petróleo em 2019 e de 51% em 2020. As sanções estadunidenses estão por trás dessa queda também. A notícia do mês é que o presidente Maduro avalia privatizar o petróleo venezuelano para aliviar as sanções e crise.
3. O Banco Mundial projeta para o mundo um lento crescimento das nações, com uma previsão de 2019 de 2,4% e para 2020 um crescimento de 2,5%. A razão desse baixo crescimento são as instabilidades geopolíticas, que envolvem desde a Guerra Comercial dos EUA em relação ao mundo, em especial a China, e os possíveis conflitos que se intensificam. Esse lento crescimento tem como esperança a retomada econômica da Argentina, Brasil, Índia, Irã, México, Rússia, Arábia Saudita e Turquia. Para a China a previsão é de um crescimento em torno de 5,9%, abaixo do crescimento projetado de 2019 (6,0%).
4. Já o FMI frustrou as expectativas de crescimento projetadas pelos presentes em Davos. Os dados não só mostraram que o ano de 2019 foi fraco, mas que os dois próximos anos projetados seguirão a mesma trajetória, crescendo a uma taxa inferior aos 3,6% registrados em 2018. Para eles as expectativas de retomada do mercado ainda não foram detectadas, podendo alterar as perspectivas apresentadas. Avaliam que os riscos globais diminuíram, mas as tensões no Oriente Médio e em relação as questões climáticas permanecem.
5. Dentre os novos riscos, a epidemia do novo coronavirus na China pode vir a impactar o crescimento do PIB chinês, reduzindo em um ponto percentual no primeiro trimestre, segundo Zhang Ming, da Academia Chinesa de Ciências Sociais. Para os economistas da Morgan Stanley, o surto poderá afetar a economia global no curso prazo, diminuindo ainda mais as projeções do crescimento lento, tudo vai depender da velocidade chinesa em conter o crescimento dessa nova epidemia.
6. Ainda sobre o lento crescimento e as projeções, o PIB dos EUA (principal economia global) avançou em 2019 em 2,3%, a menor taxa desde a eleição de Trump em 2016, abaixo da promessa de expansão de 3%. Em 2018 o crescimento foi de 2,9% e as projeções para 2020 são de crescimento de 1,8%.
7. A Oxfam apresentou um estudo que mostra a intensificação da desigualdade onde 2.153 indivíduos no mundo detêm mais riqueza que 4,6 bilhões de pessoas, o equivalente a 60% a população global. “Os 22 homens mais ricos do mundo detêm mais riqueza do que todas as mulheres da África”, afirmam.
8. A Guerra comercial entre China e EUA jogou os preços do minério e petróleo em 2019 para cima. O barril do petróleo tipo Brent teve uma valorização de 22,2%, cotado em torno de US$ 66º barril e o minério de ferro transoceânico uma valorização de 26,7%, com a cotação de US$ 92,13 a tonelada. No caso desse último a tragédia da Vale em Brumadinho contribuiu para a redução brusca da oferta, ajudando no aumento dos preços
9. Ainda sobre o embate entre China e EUA, o consumo na Ásia vem mostrando um certo impulso patriota a partir das sanções que vem enfrentando no mercado mundial. As vendas dos smartphones da Huawei na China nesse ano apresentaram um crescimento de 65%. O mesmo vem acontecendo com a venda de outros produtos como automóveis, cosméticos, roupas e filmes.
10. O acordo entre EUA e China foi assinado esse mês. Esse acordo é analisado como um cessar-fogo na guerra comercial, mas o que boa parte das reportagens destacam é a vantagem maior levada pelos EUA nesse processo. A China se comprometeu em comprar US$ 77,7 bilhões a mais em manufaturados; US$ 52,4 bilhões a mais em Energia; US$ 37,9 bilhões a mais em serviços e; US$ 32 bilhões a mais em produtos agrícolas. Totalizando em US$ 200 bilhões a mais em produtos e serviços americanos nos próximos dois anos.
11. Além do compromisso chinês em fortalecer a proteção da propriedade intelectual e eliminar a pressão de transferência de tecnologia as empresas chinesas. Também se comprometeu em não desvalorizar sua moeda para obter vantagens competitivas no comércio internacional. Da parte dos EUA se comprometeram em reduzir pela metade (7,5%) as tarifas impostas em 1° de setembro sobre US$ 120 bilhões em importações chinesas. Mas ainda mantém a tarifa de 25% sobre US$ 250 bilhões de outros produtos chineses.
12. Segundo o economista Martin Wolf, o acordo assinado por eles além de ser parcial é falho. A sua explicação é que a China jamais concordará com a inferioridade econômica e tecnologia permanente. Mostra que boa parte das medidas aceitas pela China já estavam em movimentação pelos planos do país. Mas que a grande questão que é o ciber-roubo comercial, os subsídios industriais e o programa Made in China 2025, destinado a atualizar a sofisticação tecnológica da economia não foram englobados no acordo.
13. A tentativa dos EUA em conter seus aliados de acessarem tecnologia chinesa do 5G, não tem dado resultados. O Reino Unido decidiu que “fornecedores de alto risco”, como a Huawei, poderão vender equipamentos para as partes não sensíveis da rede 5G. E a União Europeia, logo após o anuncio da primeira, decidiu conceder acesso limitado a Huawei na sua rede 5G.
II. PIB E CRESCIMENTO ECONÔMICO BRASILEIRO
14. A onda otimista no governo federal em relação ao crescimento do PIB para o ano de 2020 se mantém. Segundo o boletim da Secretaria de Política Econômica (SPE) do Ministério da Economia, a previsão foi de 2,32% para 2,4%. No ano de 2019 os resultados positivos se deveram ao saque do FGTS e a previsão para esse ano é com a criação do saque no aniversário manterá o mercado aquecido.
15. Apesar da euforia do mercado e do governo com a volta do crescimento econômico, os investimentos estrangeiros no país não têm se confirmado e a resposta para isso é a pouca confiança do exterior no crescimento real da economia brasileira, bem como a imagem negativa que o país tem passado para fora, em especial nas questões ambientais. Se as projeções de crescimento em 2% do PIB para esse ano se concretizarem, com um déficit em conta corrente de 3% do PIB, pode levar a um aumento da dívida pública para financiar esse processo.
16. Corroborando com a visão de que o crescimento não está tão certo, os cálculos do hiato do produto feitas pela consultoria LCA Consultores se encontra em -5%. Esse indicador diz o quanto o PIB real está distante do PIB potencial, quando negativo aponta o grau de ociosidade da economia brasileira, o que o indicador tem afirmado. Sem políticas fiscais que fomentem a economia, dificilmente poderemos assistir um crescimento sustentado, sem estímulo ao investimento privado
17. Embora o mercado coloque sua confiança no consumo das famílias como a propulsora do crescimento para o ano de 2020, por conta dos juros baixos e facilitação ao crédito, uma pesquisa com o setor de crédito aponta que 97% dos profissionais da área concordam que os níveis de inadimplência atuais são um problema para a economia brasileira. O endividamento das famílias apresentou crescimento de 0,5%, fechando 2019 em 65,6%, segundo a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC).
III. CONTAS PÚBLICAS E INVESTIMENTOS
18. O ano de 2019 fechou com o maior nível de arrecadação, segundo a Receita Federal, voltando ao nível de arrecadação pré-crise (2014). A projeção para esse ano é que mantenha o crescimento acima dos índices de crescimento do PIB. Entre as arrecadações que mais cresceram foram do setor de extração de minerais metálicos, com uma variação de 59,7%. Em valores absolutos, a Receita Previdenciária foi a que teve maior participação nessa arrecadação.
19. Ainda sobre as despesas e receitas do governo federal, a projeção apresentada pelo Ministério da Economia é que haverá uma queda no pagamento de juros de R$ 417,6 bilhões durante os quatro anos do governo Bolsonaro. Ainda segundo o ministério, isso seria quase metade da economia de dez anos que seria feita com a Reforma da Previdência, projetada em R$ 855,7 bilhões.
20. Houve também uma melhora das contas públicas com a redução da Dívida Pública e se projeta uma possível queda do déficit nominal no ano de 2020. Uma das medidas adotadas em 2019 pelo governo federal para reduzir o primeiro foi a venda das reservas Internacionais pelo Banco Central. Foram vendidos no ano US$ 44,8 bilhões, ficando com uma reserva de US$ 356,9 bilhões. Entre os analistas do mercado e da academia avaliam que existe ainda espaço para mais vendas, tendo o país certa proteção até o nível de US$ 300 bilhões
21. A explicação para a queda do déficit nominal foram a queda da Selic, que reduziu sobremaneira as despesas financeiras do setor público. A média do déficit nos países emergentes, segundo o FMI, está em torno de 5% do PIB. Hoje o déficit nominal brasileiro está em 6% do PIB. O ponto mais alto nesse último período foi em 2015 com um déficit nominal de 10,2% do PIB.
22. As privatizações são outro mecanismo para aumentar a arrecadação esse ano podendo chegar a uma receita de R$ 150 bilhões. O valor faz referência a 300 companhias estatais e mais 324 companhias com participação minoritária do governo. Já foram feitas em 2019 venda das participações de 71 empresas, sendo 13 subsidiárias, 39 coligadas e 19 simples participações. A proposta dessas empresas é que sejam incluídas no Plano Nacional de Desestatização (PND).
23. Além do plano de privatizações, o governo tem diminuído os investimentos na economia. O saldo líquido dos investimentos do setor público no terceiro trimestre de 2019 (últimos dados) foi negativo em R$ 11,4 bilhões, o que significa que os gastos feitos no período não foram capazes de cobrir a depreciação do estoque de capital. O segundo pior resultado, desde que é medido pelo Tesouro (2010), o primeiro pior resultado foi no primeiro trimestre de 2019. O indicador do IPEA que meda a variação da Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF) corrobora com a baixa nos investimentos públicos que apresentou uma queda de 1% no mês de novembro em relação a outubro.
24. Nas contas externas, dois temas mantém o destaque no mês. O primeiro sobre o déficit em conta corrente, que pode vir a ser um risco para a economia externa. Passou de um déficit em 2017 de 0,73% do PIB para 2,78%. Uma forma de conter esse déficit é através de empréstimos ou investimentos diretos no país. A aposta está dada nessa segunda opção. O segundo tema trata-se das reservas internacionais, com o debate de qual seria o nível ideal para não colocar o país em risco, por conta das vendas de dólares feitas pelo Banco Central ano passado. Esse valor tem girado em torno de US$ 250 a US$ 300 bilhões, dando uma margem de vendas de US$ 50 bilhões.
25. O resultado da balança comercial brasileira terminou o ano de 2019 com o saldo pior que do ano anterior, com uma variação negativa de 20,5%. A causa desse resultado pode ser explicada pelo baixo crescimento econômico mundial, com diminuição na taxa de crescimento chinesa e guerra comercial com os EUA. Também impactou a balança brasileira, a crise na Argentina que era o terceiro maior destino das exportações, perdendo essa posição para a Holanda. A crise da peste suína na China, embora ajudou nas exportações de carnes brasileiras, impactou negativamente na venda para os chineses da soja, principal produto básico brasileiro.
26. Outro dado sobre a balança comercial diz respeito aos produtos básicos que respondem por 52,8% das exportações, em 2018 era de 49,8%. Os produtos manufaturados caíram de 36% para 34,6%. Entre os produtos básicos a soja representa 11,8%, o petróleo 10,6%, o minério de ferro 9,9%, o milho 3,3%, a carne bovina 2,9% e a carne de frango 2,8%. O agronegócio é o que sustenta a balança brasileira hoje.
IV. INFLAÇÃO E PREÇO DOS ALIMENTOS
27. No mais novo capítulo sobre o preço da carne, as grandes exportadoras para a China têm sofrido um duro revés. Os importadores asiáticos têm imposto um desconto sobre a carne de 30%, derrubando a rentabilidade dos frigoríficos. Isso tem impacto mais forte os pequenos e médios que não tem condições de arcar com esse desconto, apresentando resultados negativos.
28. Com isso, o preço da carne no Brasil já tem recuado nesse ano. Hoje a carcaça bovina já está em R$ 11,50 o quilo. Em novembro do ano passado ela estava sendo vendida por R$ 16 o quilo. No IGP-M, os preços da carne bovina caíram 3,15% nos bens finais, no mês anterior apresentou crescimento de 20,37%. A previsão é que essa variação caia ainda mais, mas pode não chegar aos patamares pré boom dos preços da carne.
29. Contudo, a alta dependência do consumo chinês vem aumentando pela grandeza desse país. A China importou de carne de porco em 2019, 3,2 milhões de toneladas e a projeção para esse ano é que aumente em mais um milhão. Isso equivaleria a toda a carne de porco produzida pelo Brasil. Em 2019 o Brasil produziu 4,2 milhões de carne de porco e exportou 750,3 mil toneladas. Mas com as medidas de controle e descontos aplicados pelos importadores da China, apenas as grandes empresas frigoríficas têm condições de atender o mercado, como a JBS, Marfrig, e BRFoods.
30. O resultado do crescimento dos preços da carne por conta da demanda chinesa aquecida foi um crescimento de 36,9% das exportações em dezembro de 2019 frente ao mesmo mês de 2018. Com isso as ações das principais empresas do setor no Brasil tiveram uma grande valorização. A JBS teve uma valorização de 130%, a Minerva Foods uma valorização de 155%, a BRF em 60,7% e da Marfrig em 78,7%.
31. A projeção da inflação medida para o IPCA para o ano de 2020 é de 3,47%, segundo o Relatório Trimestral de Inflação de dezembro do Banco Central, tendo como principais fontes de alívio os preços administrados, como a conta de luz que pode vir a ter uma variação de 2%, do transporte público em 2,3% e da gasolina, com variação de 0,4%.
V. MERCADO DE TRABALHO E RENDA
32. O Salário Mínimo de 2020 será de R$ 1.045,00 a partir de 1° de fevereiro, tendo um reajuste de 4,48%, igual a inflação medida pelo INPC do ano de 2019. Segundo o governo federal, cada R$ 1 de elevação no salário mínimo, aumenta a despesa da União em R$ 355 milhões. Para cobrir esses gastos, com a regra do teto dos gastos o ministro Guedes avalia que é possível ter um contingenciamento no Orçamento para cobrir o aumento realizado.
33. O ano de 2019 terminou com um saldo positivo na geração de empregos formais (com registro em carteira). Foram 644 mil postos de trabalho criados. Desde a intensificação da crise nos anos de 2015 a 2017, tivemos o fechamento de quase três milhões de postos de trabalhos formais, os dados de 2018 e agora de 2019 com abertura de vagas não foi suficiente para cobrir metade dos postos perdidos no período anterior. Os resultados positivos de 2019 só superaram em geração de empregos os anos de 2014 e 2018. Mas ainda se mantêm entre os piores resultados comparando desde o ano de 2002. Até mesmo na crise de 2009 a geração de empregos formais nesse ano foi de 1,4 milhão.
34. Embora a geração de empregos já superou a marca registrada no período anterior a recessão de 2014, a produtividade do trabalho encontra-se em queda, segundo as projeções para o ano de 2019, o que não era esperado. O motivo se dá pelo fato dos empregos gerados estarem concentrados em setores e atividades pouco produtivos. Para o Ibre/FGV o aumento da informalidade contribuiu com mais da metade do recuo de 4,3% da produtividade do trabalho desde 2014. A reestruturação do mundo do trabalho, com a perenidade dos empregos precários e informais podem ser um grande freio para qualquer alteração nessa queda da produtividade.
35. A OIT apontou que as turbulências internacionais estão em alta como reação ao crescimento das desigualdades econômicas e sociais. As maiores turbulências ocorrem na Argélia, Egito, Sudão, Bolívia, Chile, Equador e Venezuela. Há no mundo hoje 188 milhões de desempregados, 165 milhões têm emprego, mas desejam trabalhar mais horas e 120 milhões estão marginalmente vinculadas ao mercado de trabalho. No total são 470 milhões de pessoas no mundo sem emprego ou em condições precárias de trabalho. Na informalidade são 2 bilhões de trabalhadores, representando 61% da força de trabalho mundial. E 630 milhões vivendo na pobreza extrema, recebendo menos de US$ 3,20 por dia.
36. Ainda segundo a OIT, as taxas de desemprego na América Latina e no Brasil continuarão em patamares elavados, projetando para o Brasil uma taxa de 11,4% em 2025, taxa essa três vezes maior que a média global de 5,4%. Na AL a participação dos trabalhadores informais na força de trabalho era de 53,1% em 2019.
37. Um dos efeitos dessas altas taxas de desemprego é a perda do poder de negociação da classe trabalhadora. Segundo a FIPE a maior parte das negociações salariais de 2019 ficaram abaixo da inflação, tiveram perdas reais nos salários. 25% tiveram reajustes abaixo da inflação, 25,6% tiveram reajustes iguais a inflação e 49,4% tiveram reajustes acima da inflação. Em 2018 foram 75,5% de reajustes acima da inflação conquistados.
VI. INDÚSTRIA E AGRONEGÓCIO
38. O índice que mede a Produção Mensal da Indústria, feito pelo IBGE, mostrou que em novembro (últimos dados) trouxe um resultado negativo de 1,2%. Essa redução foi nas quatro grandes categorias econômicas e em 16 das 26 atividades pesquisadas. No acumulado do ano a queda foi de 1,1%. As atividades com maiores quedas no acumulado do ano foram a indústria extrativa (-9,5%), manutenção, reparação e instalação de máquinas e equipamentos (-9,1%) e outros equipamentos de transporte (-9,3%).
39. A venda de automóveis no ano fechou com um crescimento de 10,5% em relação a 2018. Segundo a Fenabrave os resultados positivos devem-se ao aumento da oferta de crédito., com queda das taxas de juros. O destaque vai para o segmento de pesados que teve um crescimento de 34,3%. Esse segmento muitas vezes está atrelado a infraestrutura e investimentos na economia, um ponto para acompanhar mais atentamente
40. Ainda que os dados não apontem um crescimento sustentável, os industriais mostram confiança na economia, segundo a sondagem feita pela FGV. Mais do que confiança econômica, o presidente da FIESP, Paulo Skaf, tem mostrado forte alinhamento ao governo Bolsonaro, colaborando com a criação do Aliança para o Brasil, partido a ser criado pelo presidente.
41. O setor industrial espera esse ano ter um crescimento mais favorável e tem se articulado com o governo para garantir políticas setoriais que incentivem essa perspectiva. O custo Brasil continua nas demandas industriais, pedindo mais flexibilização trabalhista e tributária. A revisão de 10 das 37 Normas Regulamentadoras (NRs), que tratam da segurança do trabalho, já lhes renderiam uma economia de R$ 100 bilhões. ´
42. Na contramão da defesa da indústria, o governo busca fazer a adesão integral ao Acordo de Compras Governamentais da OMC, que vai abrir para empresas estrangeiras as licitações públicas com tratamento isonômico a empresas nacionais, o que tem grande possibilidade de piorar as condições da indústria nacional, destruindo um dos pilares das políticas industriais passadas. As associações e sindicatos patronais da indústria e construção civil tem apoiado essa medida.
43. Por outro lado, o governo ampliou em dezembro até 150% o repasse para o Programa Calha Norte, que visa o desenvolvimento sustentável da região amazônica. Esse programa é executado em duas vertentes, a primeira a civil que consiste na construção de estradas, escolas, hospitais e portos e a vertente militar que tem como foco na adequação de embarcações e infraestrutura dos pelotões especiais de fronteira. Esse ponto é algo a analisar se esse valor tem um significado com maior conteúdo militar do que civil
44. O projeto para produção de quatro novas fragatas para o Comando da Marinha foi aprovado e será feito pelo consórcio Águas Azuis, liderado pela alemã Thyssenkrupp e Embraer no estaleiro Oceana em Itajaí (SC), com 31,6% de conteúdo local no primeiro navio e média de 41% nas demais unidades. A estimativa que gera mil empregos diretos e quatro mil indiretos em um projeto de valor de R$ 4,25 bilhões. O objetivo dessas fragatas é fazer o monitoramento da Amazônia Azul
45. Na clara defesa ao governo federal em entregar sua soberania sobre seus recursos estratégicos, a diretoria da Petrobras diz não se incomodar com a perda do direito de preferência na aquisição de áreas do pré-sal nos leilões sob o regime de partilha. Analisam que a ausência das multinacionais na sexta rodada foi um recado para o Brasil sobre o incômodo com essa regra. O que tem sido respondido de pronto pela diretoria dizendo que não querem privilégios, mas condições iguais de concorrer com as grandes empresas como a Exxon e BP.
46. Os planos para a Petrobras nesse ano, segundo a empresa, é um alto processo de enxugamento de sua cadeia produtiva, expondo mais a companhia aos riscos das flutuações do setor. A empresa busca se concentrar na região Sudeste, vendendo suas refinarias e campos terrestres e em águas rasas concentrados no Nordeste. Esse processo desconstrói a visão da empresa como propulsora do desenvolvimento econômico nacional, como uma empresa integrada, como defendido nos governos de Lula e Dilma. A empresa caminha no sentido contrário do setor, dependendo apenas das exportações de óleo cru.
47. No agronegócio o destaque vai para o possível recorde na colheita de grãos de soja com um crescimento de 6%, podendo chegar a 248 milhões de toneladas nesta safra 2019/20. Já o milho tem ganhado projeção (70% da próxima safra já está negociada) tendo forte valorização por conta das compras dos frigoríficos, que tem essa commodity como insumo para a produção de carnes. A alta que tem como resultado, como já observado, a demanda chinesa aquecida por proteínas por conta do surto de peste suína africana.
48. Sobre os agrotóxicos, as notícias são que o Brasil mantém a liderança em vendas desses produtos e que o registro dos produtos para serem comercializados chegou no maior nível da década em 2019, com 474 novos produtos registrados nesse último ano. De 2010 a 2015 eram registrados por ano uma média de 130 agrotóxicos. O crescimento se dá a partir de 2016, registrando 277 produtos, em 2017 foram 405 e 2018 foram 449.
André Cardoso
Instituto Tricontinental de Pesquisa Social
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