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Foto do escritorAndre Cardoso

NOTÍCIAS DA ECONOMIA BRASILEIRA - 1ª sem de março

São Paulo, 07 de março de 2020

Nº 004/20 – semana 1


I. INTERNACIONAL

1. De olho nos desdobramentos da economia mundial, o Federal Reserve, banco central dos EUA antecipou sua reunião ordinária para cortar meio ponto percentual nos juros praticados no país. O principal risco é a chegada do coronavírus ao país. A intenção dessa queda dos juros, segundo o presidente do banco, é reduzir o choque de confiança e redução do consumo no setor de serviços. A previsão de crescimento global do PIB é de apenas 1%, segundo o Instituto Internacional de Finanças, visto a desaceleração do crescimento econômico projetado em 1,3% (antes estava em 2%) e da China em 4% (antes estava em 5,9%).

2. Na busca por manter sua hegemonia global, os EUA voltam a disputar os espaços institucionais relegados no governo Trump e ocupados pela China. Na ocasião o órgão que era de grande cobiça pelos chineses, a Organização Mundial de Propriedade Intelectual (OMPI), da ONU, apresentando candidatura própria, foi conquistadopelo candidato que teve forte apoio dos EUA (Singapura). Embora a China tenha buscado apoio nos diversos países, não foi capaz de garantir vitória. O Brasil, como tem sido praxe nesse último período, votou na candidatura apoiada pelo EUA, o que pode lhe garantir um assento no estado-maior.

3. Na Argentina os produtores rurais, influenciados pela Mesa de Enlace, que reúne a Sociedade Rural Argentina (SRA), as Confederações Rurais Argentinas (CRA), a Federação Agrária Argentina (FAA) e a Confederação Intercooperativa Agropecuária (Coninagro), marcaram paralisação (lockout patronal) de todo o setor para segunda-feira (09) por quatro dias por conta do reajuste do imposto de exportação de sojaoficializado pelo governo de Fernandez. No passado, esse tema iniciou a ruptura do bloco de poder da ex-presidente Cristina Kirchner.


II. PIB E CRESCIMENTO ECONÔMICO BRASILEIRO

4. Se as previsões de crescimento do PIB para esse ano já vinham caindo a cada semana, saindo do eufórico otimismo do mercado (sem sentido) para um clima de incertezas, agora com os resultados oficiais do PIB de 2019 com um crescimento de apenas 1,1%, o choque de realidade tem sido mais duro. A Consultoria Capital Economics já projeta um crescimento de 1,3% para 2020 e a Goldman Sachs, de sua projeção de 2,2% já espera agora um crescimento de 1,5%.

5. O resultado do PIB de 2019, embora esperado, repete a estagnação econômica vivida, com mais um ano apresentando taxas em torno de 1%. Em 2017 e 2018 foi de 1,3% em cada ano e agora foi de 1,1%. O governo federal para minimizar esse péssimo resultado faz malabarismos econômicos ao criar a separação do PIB privado e PIB público, sendo contestado por diversos economistas. Uma boa análise sobre esses resultados pode ser lida aqui.


III. CONTAS PÚBLICAS E INVESTIMENTOS

6. No debate da Reforma Tributária, o debate centra na desoneração da folha de pagamentos e as formas alternativas para cobrir esse buraco. A dificuldade reside na resistência em criar um novo CPMF, que é condenado pela maioria dos políticos, mas tem seus defensores até mesmo dentro do Executivo. Uma outra alternativa seria o uso do Imposto de Renda, mas ainda uma fonte com pouco potencial de equivalência. A briga está em quem vai arcar com o maior ônus da nova proposta, o governo ou os setores mais afetados, como o setor de serviços.

7. A balança comercial em fevereiro fechou com superávit, invertendo a déficit do mês anterior. Comparando o bimestre desse ano com de 2019, o setor que apresentou maior crescimento nas exportações foi produtos básicos, com um crescimento de 6,2%. O setor de produtos semimanufaturados e de manufaturados tiveram queda de 12,6% e 13,8% respectivamente. Nas importações, na mesma comparação bimestral, o setor de bens de capital teve um crescimento de 33,7%. A queda dos preços nos produtos básicos ainda não refletiu nos resultados desse mês, o que pode aparecer nos demais meses, pressionando o bom resultado desse setor.


IV. INFLAÇÃO E PREÇO DOS ALIMENTOS

8. Embora a desvalorização do real tenha sido grande em relação ao dólar, fechando a semana em R$ 4,63, o repasse para os preços no Brasil não é observado por conta da queda em dólar dos valores das principais commodities e capacidade ociosa da economia. O que alguns analistas observam é a possibilidade de deflação no curto prazo, pois embora poderia existir um choque na oferta, a elevada taxa de desemprego e pouco estimulo no setor produtivo, não existiria estímulo para reajustes nos preços dos produtos.


V. MERCADO DE TRABALHO E RENDA

9. O impacto do coronavírus pode ser bem maior com a nova configuração do mundo do trabalho. O processo de uberização, onde os trabalhadores são pagos de forma fragmentada em trabalhos eventuais, gera forte insegurança nesse quadro de epidemia, pois não existe formas de proteção trabalhista por doenças, bem como o arrefecimento do crescimento nos setores ligados ao turismo, viagens e varejo também atingem o trabalhador que atende esses setores a partir das plataformas tecnológicas.

VI. INDÚSTRIA E AGRONEGÓCIO

10. Com os resultados do PIB 2019 divulgados, o detalhamento da participação da indústria de transformação no PIB é apresentado, caindo para a menor proporção, ficando em 11%. Em uma conjuntura de provável recessão mundial, tudo indica mais pressão sobre o setor produtivo.

11. Apesar desse resultado negativo, a aproximação entre o governo Bolsonaro e o setor produtivo se mantém, tendo o presidente se reunido na FIESPcom as principais empresas do setor para ouvir suas “queixas” e afinar a relação no lançamento do Conselho Superior Diálogo pelo Brasil. Os diversos setores estavam presentes na reunião, com destaque para todas as montadoras de automóveis no Brasil e os grandes bancos. Para os executivosouvidos, não há problemas nos ataques de Bolsonaro a imprensa, sendo seu “estilo” de governar.

12. O setor que mostra uma tendência contrária é a da defesa, que apresentou um crescimento de 32% nas exportações brasileiras, recorde no setor. Segundo o secretário de Produtos de Defesa o efeito multiplicador na economia do setor é alto, onde para cada R$ 1 investido, são alavancados outros R$ 9, com trabalho altamente qualificado e alta intensidade tecnológica. São 1.100 empresas do setor, com 285 mil trabalhadores diretos e 850 indiretos.


André Cardoso

Instituto Tricontinental de Pesquisa Social

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