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Foto do escritorAndre Cardoso

NOTÍCIAS DA ECONOMIA BRASILEIRA - 5ª sem de abril

São Paulo, 02 de maio de 2020

Nº 005/20 – semana 5


Síntese geral: No plano internacional, os indicadores econômicos dos EUA apresentam mais queda com o PIB fechando o primeiro trimestre com uma queda de 4,8%. No Brasil as revisões de queda do PIB continuam, podendo chegar a uma retração de 10%. Nas contas públicas, a liberação de recursos para o crédito é determinante, com empréstimos do BID e o travamento dos recursos para chegar nas pequenas empresas. A previsão de deflação para o mês de abril é anunciada nos resultados preliminares, mas o preço dos alimentos continua subindo. A taxa de desemprego aumentou, atingindo a taxa de 12,2%, com mais de 12,9 milhões de desempregados e em estudo da OIT, afirma que o impacto na renda do trabalhador informal pode vir a ser de 60% de queda. Na indústria, a Petrobras apresenta crescimento na produção e exportações, a despeito da crise dos preços do Petróleo e o setor aeroespacial e da defesa tem movimentações com a compra de empresa nacional pela sueca Saab e cancelamento da joint-venture entre Boeing e Embraer.


I. INTERNACIONAL

1. Os indicadores nos EUA, como a maior economia mundial, já alertam a grave recessão que se avizinha. O PIB dos EUA do primeiro trimestre teve um encolhimento de 4,8%, puxado pela queda do consumo em especial da vendas de automóveis e do uso de serviços de saúde. Com isso, o aumento do endividamento das empresas para enfrentar suas obrigações tem sido uma das saídas. Segundo o S&P Global Ratings o índice de inadimplência (default) para o mês de abril aumentando o índice para 64 (padrão seletivo das maiores empresas transnacionais), sendo 42 dos EUA, oito dos emergentes e 7 da Europa. As inadimplências de abril foram lideradas pelos setores de mídia e entretenimento, e de petróleo e gás, com seis cada, seguidos por assistência médica, com cinco, e varejo e restaurantes, com quatro.

2. Dessa forma, o Banco Central dos EUA (FED) prometeu ações mais agressivas para recuperar a economia, com a necessidade de colocar mais recursos no sistema financeiro, aumentando os empréstimos através da compra de bônus, visto que baixar os juros pode não ser uma ferramenta ideal agora, já que se encontram em torno de zero.


II. PIB E CRESCIMENTO ECONÔMICO BRASILEIRO

3. As revisões para a queda do PIB brasileiro já chegam em -3,34% segundo o Relatório Focus do Banco Central, a quatro semanas atrás a pesquisa indicava uma queda de apenas -0,48%. Mas segundo outras instituições e consultorias econômicas, como o banco UBS, a queda pode chegar a 10,1% no ano.


III. CONTAS PÚBLICAS E INVESTIMENTOS

4. O crédito disponível é peça na conjuntura da crise atual. Internacionalmente o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) estima emprestar para o Brasil US$ 2,2 bilhões (ano passado foi de US$ 1 bilhão. No nível nacional, as dificuldades para acessar ao crédito se mantém e apenas 35% foi demandado da linha para cobrir a folha de pagamento pelas pequenas empresas. Do outro lado, as grandes companhias absorveram 88% do aumento do crédito bancário no mês março. O setor empresarial mantém apoio ao governo federal e ao ministro da Economia, mas tem pressionado por mais crédito para enfrentar o momento.

5. Estudo da Boa Vista SCPC mostra que 52% dos consumidores não terão condições de pagar suas contas. Na pesquisa 56% responderam que que terão condições de pagar as contas em no máximo dois meses.


IV. INFLAÇÃO E PREÇO DOS ALIMENTOS

6. Se a deflação é um risco, como aponta o IPCA-15 do IBGE, com queda de 0,01% no mês de abril, por conta da queda do preço da gasolina (5,41%) o impacto de aumento no preço dos alimentos ainda é observável, com uma variação de 3,14% para alimentação no domicílio (obtidos em supermercados), com destaque para a cebola que variou 35,79%, o tomate em 17,01% e a cenoura em 31,67%, acumulando uma alta de 102,71% desse último produto no ano. No índice de Preços ao Produtor (IPP) também do IBGE a alta de preços da indústria em março foi de 1,32%, com destaque para a carne que teve uma variação positiva de 6,68%.


V. MERCADO DE TRABALHO E RENDA

7. A taxa de desemprego medida pela PNAD Contínua para o primeiro trimestre móvel encerrado em março cresceu 1,3%, fechando em 12,2%, com 12,9 milhões de pessoas desempregadas. Com isso a massa de rendimento real teve uma queda igual de 1,3%, um valor perdido de R$ 2,9 bilhões. Os grupos mais atingidos são da Construção Civil (-6,5%), Serviços Domésticos (-5,9%) e Alojamento e Alimentação (-5,4%).

8. A grande dificuldade daqui para frente será o recolhimento dos dados sobre o emprego feito pelo IBGE e outras instituições governamentais, já que a última pesquisa do mês foi feita por telefone e nem todos tem respondido adequadamente, além do governo federal ter suspendido a entrega das informações das empresas da demissões e admissões em seus registros (CAGED). As respostas referentes a março foram de 60%, o indicador de resposta fica em torno de 90% habitualmente. Até mesmo os pedidos de seguro-desemprego que poderiam auxiliar nas medidas se torna difícil por contas das agências estarem fechadas represando as solicitações.

9. Segundo os dados da OIT em seu monitoramento sobre o Covid-19 e o mundo do trabalho, aponta que o primeiro mês da crise resultou em uma queda de 60% da renda dos trabalhadores e trabalhadoras informais no mundo. Na África e nas Américas esse índice foi de 81%, na Ásia e no Pacífico foi o menor com uma queda de 21,6% e na Europa uma queda de 70%.


VI. INDÚSTRIA E AGRONEGÓCIO

10. A Petrobras em meio a crise do petróleo, voltou a projetar a produção de barris/dia semelhante aos dados pré-crise. Embora a demanda interna tenha caído, a empresa espera que o crescimento das exportações cubra essa perda interna. Já no primeiro trimestre apresentou um crescimento de 14,6% na produção total e 25% das exportações, ainda que o quadro se inverta a partir de abril. As exportações da Petrobras já equivalem a um terço da sua produção e afirma que a qualidade do produto e competitividade que mantém esse crescimento. Controverso a esse entendimento, a empresa decidiu hibernar 62 plataformas em campos de águas rasas, o que reduz a produção diária em 23 mil barris.

11. Contudo, os preços futuros do petróleo continuem baixos dada a expectativa negativa diante do Covid-19 no mundo. Mesmo com recente acordo firmado da OPEP+ para reduzir a produção em 10 milhões de barris diários, o excedente do produto e a falta de condições para estocá-lo tem desvalorizado seu preço. A projeção para o ano é que o petróleo tipo Brent fique em torno de US$ 10 a USS$ 15 o barril.

12. Duas notícias no grupo das aquisições e fusões no setor Aeroespacial. De um lado a extinção do acordo firmado da Boeing com a Embraer (joint-venture controlada pela Boeing) por parte da primeira gerou atrito entre as empresas, com a Embraer apontando que recorrerá à justiça para recompensar os danos sofridos. O que pode estar por trás são os valores negociados no passado e a conjuntura que ambas empresas vivem hoje. Na época (2017) a Boeing se comprometeu em pagar US$ 4,2 bilhões por 80% da área de aviação comercial, sendo que o valor de mercado da Embraer a época era de US$ 3,6 bilhões. Hoje seu valor encontra-se em US$ 1,1 bilhão. Ao romper o contrato a Boeing só teria que pagar a multa de US$ 100 milhões. A outra notícia nesse setor foi a compra da empresa nacional Atmos, especializada no desenvolvimento e na manutenção de radares meteorológicos para uso civil e militar pela empresa sueca Saab, fabricante dos caças Gripen, com sede fabril em São Bernardo do Campo.

13. No agronegócio, a estratégia de crescimento das exportações tem sido bem-sucedida, segundo o Ministério da Agricultura, com foco na China, representando 33% das exportações do setor, puxados pela soja em grão e carnes. O objetivo do Ministério é reforçar essa parceria, não só com a China, mas com a Ásia em geral que representou 52% das exportações do agronegócio. Embalado por esse crescimento as ações da empresa Marfrig apresentam valorização substancial, subindo em 26% no ano, aumentando seu valor de mercado em R$ 1,8 bilhão.

André Cardoso

Instituto Tricontinental de Pesquisa Social

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