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Foto do escritorAndre Cardoso

NOTÍCIAS DA ECONOMIA BRASILEIRA - 4ª sem de abril

São Paulo, 25 de abril de 2020

Nº 005/20 – semana 4


Síntese geral: No plano internacional, a crise do petróleo com a cotação negativa do petróleo tipo WTI nos EUA foram destaque, as saídas como de costume pelos EUA é a intensificação do conflito, ameaçando o ataque aos navios do Irã. Nos indicadores sobre o Brasil, escassos pelos governos, mas acessível a partir de outras instituições que aponta a pior queda do PIB per capita nessa última década comparando as décadas passadas. O Plano de retomada do crescimento do governo, Pró-Brasil, em linhas gerais, não passa de uma piada de mal gosto, mas ainda assim é atacado pela ala liberal. Nas contas públicas a arrecadação já apresenta o início da queda no mês de março e com a redução do preço do barril do petróleo poderão se intensificar nos meses seguintes. No mercado de trabalho, o aumento do desemprego pode chegar a 17,8% e a queda da massa de rendimento em 5% no ano de 2020. E no caminho oposto a crise de todos os setores da economia, o agronegócio indica crescimento do valor bruto de produção, embora a FAO aponte uma redução do preço das commodities agrícolas no próximo período.


I. INTERNACIONAL

1. O tema central da semana foi a queda dos preços do petróleo tipo WTI, negociado na bolsa de valores de Nova Iorque, que teve uma variação de mais de 300%, fechando negativo em US$ 37,63/barril. Essa movimentação especulativa se deu primeiro pelo pânico generalizado dos detentores dos papeis do petróleo futuro do mês de maio que estavam prestes a vencer e diante da expectativa de queda no consumo do petróleo a corrida foi para se desfazer desse papel. Mas também pelo lado da economia real, o armazenamento do petróleo nos EUA tem se elevado, podendo chegar a um colapso, dado a incapacidade de reduzir a produção e sem perspectivas de consumo do mesmo.

2. O petróleo tipo Brent também está em queda com as perspectivas de queda intensa do consumo e lenta redução da produção para equilibrar os preços, fechando na semana em US$ 21,91. E o quadro das disputas entre os blocos tanto de produtores como dos grandes consumidores se intensificou, com o Trump ameaçando atacar os navios iranianos se estes “representassem uma ameaça”. Com sua fala os preços do petróleo tanto do tipo Brent como WTI tiveram leve elevação, contendo a queda livre da semana. Recordando que do outro lado a OPEP+ tem pressionado também nessa batalha dos preços e controle dos mercados.

3. A saída de capitais estrangeiros dos países em desenvolvimento já foi mencionada em notícias passadas, que alcançavam a fuga de US$ 83,3 bilhões. Mas com a intensificação da crise, alguns países emergentes estão adotando controles de capital para evitar um colapso maior. Entre os países estão a Argentina (que já faz desde o ano passado), Equador e o Líbano. Do outro lado, o temor da China é a fuga das empresas estrangeiras no país, como avaliação dos demais países da extrema dependência que tem da produção chinesa, escancarada com o choque do Covid-19.


II. PIB E CRESCIMENTO ECONÔMICO BRASILEIRO

4. Há uma falta de indicadores oficiais sobre o impacto da crise no Brasil como aponta a reportagem da Folha, com o governo suspendendo o recolhimento de diversas informações que poderiam auxiliar nas medidas para enfrentar o vírus. Os demais estudos são de outras instituições privadas, como o estudo do Ibre/FGV que indica a pior retração do PIB per capita de 2011 a 2020 na comparação dos últimos 100 anos analisados. E também os cálculos do Banco Mundial sobre o aumento da extrema pobreza no Brasil em jogar 15 milhões nessas condições, o quarto ano consecutivo do aumento de brasileiros vivendo nessas condições.

5. As inconstâncias no governo federal em como enfrentar esse choque da epidemia continuam. De um lado apresentam um plano de investimentos em infraestrutura, que alguns nominavam de um “Plano Marshall” brasileiro, mas que tanto em sua apresentação como dos recursos reservados para ele são pífios e impossível de colocar em movimento qualquer plano de recuperação, como observado nesse artigo. Do outro lado, críticas do próprio presidente do Banco do Brasil, temendo a crise desperte o instinto intervencionista do Estado e o descontentamento da ala econômica do governo com programas que indiquem mais gastos futuros.


III. CONTAS PÚBLICAS E INVESTIMENTOS

6. Em estudo sobre as medidas de austeridade fiscal e da EC 95, o INESC mostra como estes impactaram a resposta ao choque do Covid-19, com a União cortando 28,9% das despesas discricionárias dos programas sociais de 2014 a 2019. A comemoração da redução do déficit primário de 1,8% do PIB em 2018 para 1,0% em 2019 foi apenas possível pelos altos contingenciamentos dos seus gastos.

7. A arrecadação do mês de março apresentou uma queda real de 3,32%, mas não indica ainda todo o impacto do CoronaChoque por medir ainda muito das atividades operadas no mês de fevereiro. Ainda assim, são os piores resultados para o mês de março desde 2010. As compensações tributárias (o uso dos créditos com os governos por parte das empresas para pagamento de tributos) foi o que teve maior participação com alta de 53,43%. O impacto na arrecadação com a redução do preço do barril do petróleo também é uma preocupação, podendo chegar a uma queda de R$ 15 bilhões em 2020.


IV. INFLAÇÃO E PREÇO DOS ALIMENTOS

8. Semelhante a semana anterior, a Petrobras anuncia mais um corte no preço do litro do diesel em 4% e da gasolina em 8%. Esse foi o 12º rebaixamento de preços da gasolina feita pela empresa diante da baixa dos preços internacionais do barril do petróleo, com a escassez da demanda diante da crise do coronavírus. Essas reduções podem impactar na inflação de abril e maio, mesmo que a alta do dólar amenize essa queda. A gasolina da Petrobras representa 20% do preço total dos postos de gasolina, além do transporte, impostos e as margens de lucro das distribuidoras.


V. MERCADO DE TRABALHO E RENDA

9. Boletim Macro do Ibre/FGV de abril estima que o desemprego no ano de 2020 feche em 17,85%, com queda maior no emprego formal, bem como uma queda de 5% na massa ampliada de rendimentos (que inclui benefícios sociais e previdenciários). Sem as medidas de proteção ao emprego e compensação de renda do governo federal a estimativa de que do rendimento seria de 10%.

10. Foi aprovado no dia 22 no Senado a ampliação das categorias beneficiadas pelo auxílio emergencial de R$ 600, além de outras alterações como a inclusão de chefes de família, mães adolescentes e quem teve rende superior a R$ 28 mil em 2018. O impacto estimado com essa alteração é de R$ 20 bilhões por ano. E na “PEC do Orçamento de Guerra”, o Senado inseriu a condicionante de manutenção de empregos para as empresas que se beneficiarem das medidas dessa PEC.

V. INDÚSTRIA E AGRONEGÓCIO

11. Enquanto a produção industrial tem indicado paralisação e queda, o valor bruto da produção agropecuária se mantém firme, podendo alcançar esse ano o recorde de R$ 690 bilhões, 7,6% maior que 2019. A soja se mantém como carro-chefe com uma elevação da projeção de 12,9% em relação a 2019 e o milho com uma variação de 16,9%. No sentido contrário, a FAO aponta que os preços dos commodities agrícolas poderão cair nos próximos 12 meses, visto que o mundo pós Covid-19 estará em uma grave recessão.

André Cardoso

Instituto Tricontinental de Pesquisa Social

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