São Paulo, 21 de fevereiro de 2020
Nº 003/20 – semana 3
I. INTERNACIONAL
1. As medidas da China para incentivar as empresas a manter os empregos contra os impactos do coronavírus continuam com facilidade do crédito e flexibilização dos prazos de pagamentos de dívidas das pequenas empresas. O Ministério da Indústria e Tecnologia informou que conectaria fábricas com empresas de tecnologia para identificar os elos fracos em suas cadeias de suprimento. Com essa notícia as ações negociadas em Wall Street apresentaram aumentos, como sinal de confiança no governo chinês, segundo informa o Valor Econômico.
2. Os olhos voltam-se agora para as grandes empresas como a Apple que manifestou queda no seu faturamento na venda de iPhones esse ano por conta das paralisações de suas fábricas, resultado da epidemia. Com essa notícia, os especialistas esperam que as demais grandes empresas apontem as mesmas projeções.
3. Na América Latina, a Argentina continua em negociação com o FMI para o pagamento da dívida contraída no governo do Macri. Os credores privados não indicam otimismo com as propostas do país, contudo, o FMI tem indicado que as negociações andam bem e faz um apelo aos credores privados em favor da Argentina. O prazo para um acordo é até o final de março.
4. Já a pressão sobre a Venezuela pelos EUA continua, agora com o anúncio de sanções contra a empresa russa Rosneft Trading, tentando impedir as exportações do petróleo venezuelano. A empresa russa comercializa 60% do petróleo vendido pela Venezuela. Essas medidas, segundo o Ministério das Relações Exteriores da Rússia apenas prejudicam mais as relações do país com os EUA.
II. PIB E CRESCIMENTO ECONÔMICO BRASILEIRO
5. A euforia do crescimento tem acabado e as principais consultorias e jornais especializados já tem revisado as projeções de crescimento para a economia brasileira. Os resultados negativos do último quadrimestre do ano apontam uma tendência que não será invertida facilmente. Para a BNP Paribas o crescimento esse ano será de 1,5%, antes avaliava em 2%. A expectativa de crescimento de 2,2% já tem sido apresentada como teto de crescimento possível para o ano de 2020.
6. Em um estudo da vice-presidência da FIESP e da Abiplast, a recuperação vivida pela economia brasileira é a mais lenta da história. São 22 trimestres abaixo do nível pré-crise (2014-2016). O último período mais longo foi de 1989 a 1992 com 18 trimestres abaixo do nível pré-crise.
III. CONTAS PÚBLICAS E INVESTIMENTOS
7. A Reforma tributária teve um duro golpe com o estudo do ex-secretário da Receita, Marcos Cintra (FGV), afirmando que a proposta discutida hoje pelo Congresso aumentaria o peso dos impostos sobre o consumo de 106 dos 126 setores existentes (84%), bem como a defesa de um imposto sobre movimentação financeira, semelhante ao CPMF, para desonerar a contribuição patronal à Previdência. Muitos outros especialistas contestaram esses dados, mas o fato é que esse estudo prejudicou o seu andamento, colocando mais dúvidas no real impacto do projeto.
8. Resultado das privatizações dos principais aeroportos, invés de trazer ganhos para o governo e eficiência para o setor privado, como pregam seus defensores, trouxe na verdade a necessidade do Tesouro capitalizar mais a Infraero para financiar os investimentos nesses aeroportos, além de não pagar mais dividendos para o Tesouro com a privatização.
9. Nos jornais especializados o foco de debate e crítica continua sobre as capitalizações feitas pelo governo federal nas principais empresas estatais no fim do ano passado, a partir da brecha permitida pela EC do teto dos gastos. Mais uma vez mostrando a inviabilidade dessa Emenda Constitucional para manter o crescimento da economia.
10. Um estudo apresentado pela Câmara de Comércio Exterior (CAMEX), do Ministério da Economia, mostrou que 85% dos Investimentos Estrangeiros Diretos no país foram para copra de empresas existentes e apenas 15% para a construção de novas plantas produtivas, no período de 2003 a 2019.O que se observa na verdade é um processo de desnacionalização do parque industrial brasileiro e menos da entrada de novas empresas.
IV. MERCADO DE TRABALHO E RENDA
11. Os dados das greves em 2019 apresentou uma queda de 23% em relação ao ano de 2018. Foram 1.118 greves em relação a 1.461 no ano de 2018, segundo o DIEESE. Dessas mobilizações 82% tiveram caráter defensivo, contra o descumprimento de direitos ou pela simples manutenção de condições vigentes. As reivindicações principais foram sobre o atraso de salários, férias, décimo terceiro e reajuste dos salários. O setor de serviços do setor privado foi o que mais concentrou as greves (78%).
V. INDÚSTRIA E AGRONEGÓCIO
12. Ainda sobre o impacto do coronavirus sobre a indústria brasileira, o Foro China Brasil projeta que as empresas brasileiras vão se deparar com o desabastecimento dos seus insumos mais fortemente no segundo semestre, dado que o período entre a produção e entrega das encomendas levam em torno de 90 dias. Para o Foro, somente em maio, no cenário mais otimista, é que as fábricas chinesas voltarão a operar com 100% de seus trabalhadores.
13. O governo federal, a partir do Ministério da Economia, lançou uma espécie de plano para a indústria com o objetivo de aumentar a sua produtividade, o Programa “Brasil Mais”, que se encontra dentro do plano “Rotas do Crescimento”, com o objetivo de reindustrializar o país. São seis eixos no programa: Simplifica (diminuir a burocracia), Emprega Mais (focado na qualificação do emprego em parceria com o Sistema S), Brasil 4.0 (reorganização das linhas de produção das empresas a partir da consultoria especializadas financiadas pelo governo), Concorrência para a Prosperidade (estimulo a navegação de cabotagem e permissão para compras de terras por estrangeiros), Pró-Infra (revisão dos marcos regulatórios) e Prospera Micro e Pequena Empresa (facilitação do crédito e enxugamento das exigências para o Simples).
14. Ainda no papel do governo sobre a indústria, o Ministério da Defesa busca ampliar o escopo do projeto da Empresa Gerencial de Projetos Navais (Emgeprom), atendendo não só a Marinha, mas também o Exército e Aeronáutica. Lembrando que essa estatal foi a que recebeu o maior valor de capitalização em 2019 para financiar a produção de embarcações para a Marinha a serem produzidos no estaleiro Oceânica, em Santa Catarina
André Cardoso
Instituto Tricontinental de Pesquisa Social
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