top of page
Foto do escritorAndre Cardoso

NOTÍCIAS DA ECONOMIA BRASILEIRA - 3ª sem de março

São Paulo, 21 de março de 2020

Nº 004/20 – semana 3


Síntese geral: As novas projeções para o crescimento mundial diante da pandemia anunciada têm sido apresentadas e o que tudo indica é um quadro de recessão nesse ano. Várias medidas vêm sendo tomadas pelos governos, mas ainda assim o desemprego desponta como a variável que vai apresentar um forte crescimento. A economia da China apresentou fortes quedas nas taxas de crescimento dos diversos setores, mas tudo indica que conteve a epidemia em seu território. Enquanto isso no Brasil, além da projeção de queda de 4,4% no PIB esse ano, as medidas para conter a epidemia além de lentas mostram-se ineficazes. A defesa em manter uma agenda de reformas de austeridade tem perdido muitos adeptos, a redução de 0,75% na taxa Selic está entre uma das medidas tímidas pelo lado da Política Monetária. Os empregos nos diversos setores já projetam queda e na indústria, setores estratégicos como o de automóveis já indicam paradas. A estratégia de privatização dos ativos da Petrobras mostra-se fracassado nessa conjuntura de crise.


I. INTERNACIONAL

1. O cenário de crise se intensificou pelo mundo e o receio de enfrentarmos uma das maiores crises desde a de 1930 se tornam reais. As projeções para o PIB feitas pelos bancos de investimento já apontam queda de 10% a 15% na zona do euro para o segundo trimestre e nos EUA uma queda de 14%. O JP Morgan já prevê para o ano de 2020 uma queda de 1,5%.

2. Com a queda nas atividades que estão contendo o consumo, as projeções de aumento do desemprego nos setores diretamente ligados ao serviço serão altas. Segundo os dados divulgados pelo Departamento do Trabalho dos EUA o número de americanos que está solicitando o seguro-desemprego apresentou uma alta de 70 mil comparado com o período anterior. Até dia 14 de março foram 281 mil pedidos. O que se avizinha é uma grande crise do crédito, com a impossibilidade dos trabalhadores cumprirem seus compromissos com as dívidas adquiridas.

3. Na esteira da crise, as montadoras de automóveis europeias (Renault, Peugeot, FCA Chrysler, Volkswagen e a fabricante de autopeças Michelin) indicaram fechamento de suas plantas tanto por conta da falta de autopeças produzidas mundo a fora como pelas medidas de confinamento para impedir a proliferação do vírus, sendo um dos piores quadros enfrentados por elas nos últimos dez anos, segundo o Valor Econômico.

4. O que grande parte dos analistas pelo mundo defendem são fortes medidas contracíclicas, por conta do fim da euforia do mercado, provocando a queda generalizadas das ações em todas as bolsas de valores, com uma corrida em busca de maior liquidez em dólar. A saída eminente é o Federal Reserve prover liquidez necessária para impedir essa queda maior, pois a queda da taxa de juros não é suficiente para conter o momento. Governos da Europa e os EUA tem reagido com uma série de medidas injetando trilhões de dólares na economia, como sintetiza essa reportagem.

5. Os dados apresentados no início da semana de forte queda na economia chinesa já eram esperados, mas ainda sim se mantém impactantes. A produção industrial caiu 13,5% nos dois primeiros meses do ano, o varejo caiu 20,5%, o investimento caiu 24,5% e a taxa de desemprego subiu para 6,2%. Embora já indique que a propagação do novo coronavírus esteja controlado, ainda espera resultados piores para o mês de março.


II. PIB E CRESCIMENTO ECONÔMICO BRASILEIRO

6. A semana já começou com mais uma parada no mercado de ações com uma queda de 13,92% do Ibovespa e o dólar subindo 5,16%, fechando em R$ 5,06. As causas além das incertezas da disseminação do novo coronavírus, foram as medidas do Federal Reserve, banco central dos EUA de reduzir a taxa de juros a zero. O dólar chegou a fechar na quinta-feira em R$ 5,20, mas recuou no dia seguinte para R$ 5,09 por conta das medidas de estabilização do Banco Central Europeu e da Inglaterra.

7. As projeções para o PIB brasileiro já despencaram de um baixo crescimento ou estagnação para uma possível recessão. Segundo o estudo do Centro de Estudos em Macroeconomia Aplicada da FGV a queda pode ser de 4,4% para 2020, a maior retração registrada desde 1962, tendo como causa um grande choque externo, que é o impacto do novo coronavírus na China, Europa e EUA. No pior cenário os efeitos da crise podem perdurar até o ano de 2023 e no melhor dos cenários até o ano que vem.


III. CONTAS PÚBLICAS E INVESTIMENTOS

8. Após muita pressão sobre o governo federal em apontar medidas de mitigação da epidemia no país, que se mostrou despreparado e rígido em manter sua política de austeridade fiscal, foi apresentado um conjunto de ações no combate ao novo coronavírus e os efeitos da crise econômica no país. O DIEESE na Nota Técnica 223 sistematiza o pacote de ações do governo analisa as insuficiências deste em atenuar os problemas vividos. Na reportagem do Valor Econômico também traz um quadro das medidas apresentadas.

9. Em outra entrevista no mesmo jornal feita com o consultor do Orçamento do Senado, Vinicius Amaral, ele afirma que se a PEC Emergencial estivesse aprovada não seria possível executar o plano de ações do governo federal contra a epidemia.Sendo barradas as propostas de isenção do imposto de importação para produtos médico-hospitalares, desoneração do IPI para produtos nacionais de combate a doença, a expansão do crédito do Progre/FAT para micro e pequenas empresas, a redução das contribuições em 50% do Sistema S e reforço do Bolsa Família.

10. Mesmo assim, o editorial do Valor Econômico insiste que a saída dos problemas enfrentados no país é manter as Reformas defendidas pelo governo contra o que chama de “pautas-bomba” que injetam recursos na economia.


IV. INFLAÇÃO E PREÇO DOS ALIMENTOS

11. A previsão da inflação para esse ano diante da crise segundo as consultorias é de queda, podendo o IPCA/IBGE ficar em 2,5% no ano de 2020, bem abaixo das projeções do BC que eram de 3,75%. A queda tem muito mais relação com o esfriamento que o setor de serviços começa a viver do que propriamente as reduções do preço dos combustíveis que vem sendo anunciado pela Petrobras, por conta da queda do preço do barril do petróleo.

12. O Banco Central, olhando para as medidas tomadas no mundo decidiu baixar 0,75% da taxa Selic, fechando em 3,75% ao ano. Uma redução muito tímida diante das demais ações dos Bancos Centrais no mundo e de uma baixa forte na expectativa da inflação no Brasil.


V. MERCADO DE TRABALHO E RENDA

13. A preocupação se volta também para o emprego e renda, principalmente dos trabalhadores e trabalhadoras que estão na informalidade, os primeiros a sentir o impacto da crise, como já abordado na semana passada. A OIT estima uma perda de 25 milhões de empregos no mundo, com perdas financeiras que pode chegar a US$ 3,4 trilhões até o final de 2020. Mas analisa que se houver respostas rápidas dos governos é possível um impacto menor, tendo entre as propostas da organização os eixos como a proteção dos trabalhadores no local de trabalho; estímulo à economia e ao emprego e; apoio aos postos de trabalho e renda.

14. Diante das medidas do governo federal como a possibilidade de redução de jornadas e salários em até 50% mediante negociação individual, as Centrais Sindicais avaliam que isso vai piorar ainda mais o quadro recessivo que é observado, com a diminuição dos rendimentos dos trabalhadores formais. A defesa das Centrais é a manutenção dos salários utilizando outros instrumentos como as férias coletivas, banco de horas, layoffs entre outros, pois essa redução coloca mais uma vez o ônus sobre os trabalhadores, desonerando ainda mais as empresas.


VI. INDÚSTRIA E AGRONEGÓCIO

15. Assim, como nos demais países que possuem plantas fabris, as Montadoras de automóveis começam a paralisar a produção no país e adiar os investimentos no setor por conta da crise da epidemia do novo coronavírus.Além de usar as formas clássicas como férias coletivas e layoff, algumas plantas tem feito demissões de seus trabalhadores, como a Caoa Chery em São Jose dos Campos, como mostra a reportagem sobre o tema.

16. A queda do preço do petróleo tem pressionado os planos de investimento da Petrobras, além da queda do preço de suas ações pela instabilidade vivida nas bolsas nesse último período. A estratégia do empresa de se desfazer de boa parte de seus ativos, privatizando as refinarias joga contra a própria empresa, pois em um momento de queda das exportações do petróleo cru, o mais certo era aumentar a taxa de utilização de suas refinarias, abastecendo o mercado interno, o que não está em seus planos de privatizações, como observa o pesquisador Rodrigo Leão em artigo no Instituto de Estudos Estratégicos do Petróleo.


André Cardoso

Instituto Tricontinental de Pesquisa Social

6 visualizações0 comentário

Posts recentes

Ver tudo

Comments


bottom of page